sábado, 19 de março de 2011

Tempestades da vida


Certa vez, Lama Gangchen Rinpoche nos explicou a semelhança entre o mundo externo e o mundo interno. Ele disse: Assim como hoje em dia há menos florestas no planeta, as pessoas estão ficando mais carecas, sem cabelo. Se os cientistas investigassem, observariam que desde que a água doce está mais poluída, o ser humano vem sofrendo com mais problemas no líquido amniótico da medula. O mundo fora de nós é um reflexo de nosso mundo interno. A troca é contínua. O mundo interno influencia o mundo externo e o mundo externo transforma o mundo interno. Intrigada, lembro-me que lhe perguntei: Como é a TPM no mundo externo? Ele me respondeu: Como o calor abafado e as nuvens pretas antes de uma forte chuva!.

Desde então, procuro observar estas semelhanças. Outro dia, ocorreu uma incrível coincidência. No momento exato em que estava assistindo, no filme Quem somos nós, os cientistas explicarem que nossas células nervosas se comunicam por meio de descargas elétricas (sinapses) semelhantes aos raios antes da chuva, eu pude ver pela janela de casa inúmeros relâmpagos no céu. Este momento me fez refletir sobre como somos presos a uma visão limitada de nós mesmos! Aliás, assistir a este filme nos ajuda muito a ampliá-la!

Mas recentemente, ao ver os enormes relâmpagos no céu escuro pouco antes de chover, associei-os ao que sentimos quando estamos diante uma grande mudança em nossa vida. Nestes momentos, não há dúvida de que os mundos interno e externo se comunicam: podemos sentir a tensão dentro e fora de nós! Associei os raios às notícias inesperadas que prenunciam a realidade de que o tempo vai mudar, é melhor nos refugiarmos em algum lugar!

Tomar refúgio das tempestades da vida é uma atitude essencial para que pratiquemos a filosofia budista. Vale a pena lembrar: não é preciso tornar-se um budista para praticar o budismo. O importante é entendermos a essência desta filosofia e ao praticá-la sentir cada vez melhor!

Por isso, escolhi transcrever um texto extraído do livro NgelSo Autocura Tântrica III de Lama Gangchen Rinpoche (Ed..Gaia) para explicar melhor o sentido real e profundo de Tomar Refúgio:

REFÚGIO – A MELHOR APÓLICE DE SEGURO DE VIDA

Todos estamos procurando algum tipo de proteção e refúgio dos sofrimentos da vida. Há muitas coisas nas quais nos refugiamos nesse momento: comida, sexo, nosso marido, esposa ou amante, espaço individual, nossos bens, carreira, dinheiro, etc. Mas infelizmente, como já sabemos por experiência, esses refúgios não são muito confiáveis. Nossa(o) namorada(o) pode voltar-se contra nós, ir embora com outra pessoa ou morrer; nosso apartamento pode ser assaltado, nossos negócios podem fracassar, podemos perder o emprego e, por fim, acabamos sempre gastando todo nosso dinheiro.
Tanto os cientistas externos pesquisando o nível grosseiro dos fenômenos, quanto os cientistas internos pesquisando seus corpos, mentes e energia nos níveis sutil e muito sutil, descobriram que os objetos manifestos não possuem essência. Refugiar-se por ignorância nessas coisas não confiáveis sempre nos causa sofrimento e extingue nossa força vital. Até este momento, só buscamos refúgio na ignorância. Está na hora de percebermos que o melhor investimento é buscar refúgio interior e exterior em Buddha (a mente iluminada), Dharma (os métodos de autocura e a palavra pura) e Sangha (a boa companhia e a energia pura de corpo).

Externamente, as Três Jóias são o Lama Curador (Buddha), a Autocura NgelSo (Dharma) e a comunidade de Autocura. Internamente, devemos buscar refúgio em nosso potencial humano mais elevado (A Budeidade) e na experiência de autocura. Além disso, precisamos nos tornar uma Sangha, oferecendo aos outros um bom exemplo de comportamento e qualidades. Há muitos níveis diferentes de sangha, nos quais podemos encontrar qualidades diferentes. Por exemplo, a Sangha monástica, a Sangha dos Bodhisattvas e a Sangha Tântrica. Devemos desejar pertencer a pelo menos uma delas.
Existem diferentes níveis de refúgio das tempestades da vida. O nível básico é o desejo de ter felicidade nesta e na próxima vida. O nível intermediário é o desejo de encontrar proteção contra qualquer forma descontrolada de renascimento, e de atingir o Nirvana (a paz absoluta).

O nível de refúgio mais profundo é o desejo de tornar-se um líder e curador, capaz de trazer paz e cura a todos os seres vivos. Esse é o refúgio Mahayana.
Tomar refúgio nos proporciona um profundo sentimento de certeza e direção para a vida. Quando tomamos refúgio, ligamos nosso computador do coração à nossa luz interior e às energias de cristal puro do nível absoluto da realidade. Entrar no mandala budista é como unir-se a uma imensa rede positiva de computadores e, com a cerimônia de refúgio, obtemos nossa senha para entrarmos nessa rede e receber os benefícios das práticas autocurativas do Sutra e do Tantra. Com essa senha, podemos acionar as energias de cristal puro disponíveis para nós, integrando os votos Pratimoksha, Mahayana e Vinayayana em nosso dia-a-dia. Assim, ligando-nos a energias de cura cada vez mais poderosas, podemos facilmente refinar nosso comportamento, purificar nossa escuridão interna e ações negativas e gerar muita paz e luz interior.

Desenvolver amor, gentileza, energia positiva e o sorriso interior, impede que nossos inimigos ou seres malignos nos causem mal, pois precisariam apoiar-se em alguma negatividade nossa para isso. Compreendendo a lei do Karma e a interdependência dos fenômenos, podemos nos tornar nossos próprios protetores. Ao tomarmos refúgio, automaticamente nos ligamos a poderosos protetores sutis que criam espaço em nossa vida para a autocura. Além disso, quando morrermos, poderemos nos sintonizar com a energia de nosso Lama Curador e ativar o programa da Autocura em nosso disco interno. Como resultado, morreremos com a mente alegre, bonita e em paz, e a morte será para nós uma experiência de cura.

Tomando refúgio na possibilidade da paz absoluta (Nirvana), podemos desenvolver nossa luz interna e, passo a passo, conseguir todas as coisas positivas que desejamos no nível relativo e absoluto. Compreendendo a relação causa-efeito e fazendo as práticas de purificação, impedimos que as emoções negativas dominem nosso bom senso e nos façam realizar ações autodestrutivas, que mais tarde nos causarão diferentes formas de intenso sofrimento.

Se desejamos que os Buddhas e os Seres Sagrados da rede do refúgio nos ajudem sempre que precisarmos, devemos tomar refúgio nas horas boas também, e não só nas ruins. Pedindo ajuda apenas quando estamos com problemas, deprimidos ou doentes, estamos nos relacionamos com os Buddhas como com um serviço de emergência e, assim, perdemos muita energia de cura e deixamos de passar muitas mensagens de paz na tela de nosso computador mental. Para obter o benefício total, temos que estar ligados o tempo todo. Os Buddhas, Bodhisattvas e Seres Sagrados estão sempre à espera de nossos chamados, mas se quisermos uma resposta, temos que manter o coração e a mente sempre abertos!

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