Dai-me Senhor, a perseverança das ondas do mar, que fazem de cada recuo um ponto de partida para um novo avanço.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
Arrisque-se
Mario Meir
Neste tempo de ano novo renovam-se as esperanças e a expectativa de que “neste ano as coisas serão bem diferentes”. Mas o que está por vir a ser, na maior parte das vezes é apenas uma reprodução sistemática do que sempre foi. Essa é nossa tendência ao descanso.
Mas o furor de esperanças renovadas não costuma passar de janeiro. Isso nor...malmente se repete a cada ano, quase sempre da mesma forma. Acreditamos inaugurar uma “mudança legítima” por termos começado o ano com o “pé direito”. Mas o pé, geralmente se destina a cumprir o mesmo caminho e ir na mesma direção. Somos escravos da repetição disfarçada de transformação.
A verdade é que normalmente eu não inaugura nada de novo. Estamos sempre sendo.
Mas, o primeiro momento é sempre o futuro (projeção). O homem é sempre projetado para um possível. E este estar voltado para o futuro é o começo de tudo. O que destina o destino é o que tem sido.
Mas essa é a grande dificuldade do mundo moderno. O homem moderno pensa a existência como sendo algo atual. Mas o “atual” nunca existe. Tudo o que existe é um algo projetado.
Esse é um dos grandes mistérios do nome do Sagrado. Para os neviim, o nome Yihavehá poderia ser traduzido por “Serei”. Essa é a onipotência do vir à ser. Somos criados pelo “vir à ser”, permanente, eterno.
Nós somos sempre um ser projetado, e é isso que me permite mudar. Só nos tornamos capazes de mudar quando mudamos o nosso “projetado”. E eu só mudo o meu projetado quando mudo o que venho sendo. Isso não se dá de forma instantânea e nem é ativado por um estalo enigmático. Isso não é ditado pelo atual. É fruto de tempo e serenidade.
Espiritualidade é isso, uma retomada de lucidez quanto ao seu “projetado”, o seu “vir à ser”. Espiritualidade não é “chave para felicidade” ou “caminho para o sucesso”. Espiritualidade arriscar-se em outro campo “projetado” da existência, é um projeto de vida. E a única coisa que esse projeto de vida pode lhe conceder é liberdade.
Arrisque-se!
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